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Hardware - O Super I/O e o POST do BIOS

Leonardo Ritter

Atualizado: 24 de mai. de 2022

Neste artigo, vou mostrar alguns detalhes sobre o POST (Power On Self Test), feito pelo Super I/O, podendo ser o chip dedicado ou o embutido no chipset, que serve para avaliar o hardware do PC assim que o sistema for ligado e mostrar através de códigos visuais ou sonoros o funcionamento normal do dispositivo ou a possível falha que o mesmo está sofrendo.

Imagem 1

O POST faz parte do código do BIOS (Basic Input Output System - Sistema Básico de Entrada e Saída). O BIOS, explicado de forma sucinta, é apenas o Firmware do dispositivo, mas quando se trata de Desktops e Notebooks, o povo chama popularmente de "BIOS".

O Firmware é uma classe de software que serve para fornecer um controle de baixo nível para o Hardware e para o Sistema que rodará através o Hardware. No caso do BIOS, temos também um SETUP embutido, uma interface onde podemos configurar diretamente o Hardware.

Temos algumas marcas de BIOS famosas no mercado, entre elas a American Megatrends Inc. (AMI BIOS), a Award e a Phoenix, sendo que as duas últimas listadas são a mesma empresa hoje em dia. Os PCs fabricados pela IBM usavam um BIOS desenvolvido pela mesma companhia, portanto podemos considerar a IBM uma marca de BIOS, porém, atualmente não mais utilizada.

Em resumo, as desenvolvedoras de BIOS mais utilizadas atualmente são a AMI BIOS, para placas-mãe de Desktop, bem como a Insyde, com a marca InsydeH2O sendo utilizada principalmente em placas-mãe de notebooks.


Cada desenvolvedora criou seu padrão de BIOS, com códigos de erro e estilo de interface gráfica, além de outros fatores independentes, sendo que até meados de 2011 todas as empresas se baseavam num sistema legado (chamado de Legacy BIOS), que sempre foi o mesmo desde os anos 1980. A partir de 2011 a tecnologia UEFI BIOS começou a vigorar com mais força, trazendo um desempenho, estabilidade e interface de configuração mais confiável para os usuários. Apesar da evolução, os códigos sonoros de erro utilizados por cada desenvolvedora continuam o mesmo, como você pode ver a seguir.


Os códigos sonoros, como já dito, servem para informar erros verificados através do diagnóstico de hardware feito pelo POST após o momento em que o computador é ligado. Estes códigos sonoros são apenas um ou mais BEEPs, pulsos sonoros longos ou curtos executados por um Speaker, uma espécie de auto-falante "primitivo" que está ligado ao Super I/O, como é mostrado na imagem abaixo:

Diagrama 1 - Linha do BEEP no Super I/O da placa-mãe Gigabyte GA-8IE2004 Rev. 1.0

No caso do diagrama da placa-mãe GA-8IE2004 Rev. 1.0 e também de todas as outras placas-mãe do mercado, o Speaker tem o polo positivo ligado à uma linha de alimentação de 12 Volts presente na placa-mãe e o polo negativo é ligado ao Super I/O. Quando é liberado uma corrente pela linha "BEEP-" do Super I/O, o circuito se fecha e o Speaker apita. Para mais detalhes sobre a eletrônica envolvida, basta CLICAR AQUI!

O Speaker pode vir soldado diretamente na placa-mãe, só que na maioria dos casos ele não vem! Apenas a marcação do local do componente está presente na PCB, como pode ser visto abaixo:

Imagem 2


Observe o circulo branco com a abreviação "BZ" ao lado. "BZ" é a abreviação para "Buzzer". Buzzer é a mesma coisa que Speaker. Veja que o circulo branco está dividido ao meio e de um lado há linhas também brancas na diagonal, pois bem, estas linhas simbolizam o polo negativo (assim como a listra nos capacitores).

Veja abaixo um Speaker que pode ser encaixado na placa-mãe:

Imagem 3


O fio vermelho é o polo positivo, enquanto o fio preto é o polo negativo. Normalmente, o Speaker pode ser plugado junto do FRONT_PANEL da placa-mãe, onde são conectados o botão Power e o botão Reset, além dos PWR_LED e HDD_LED, como é possível ver no diagrama abaixo:

Diagrama 2


Este esquema também é válido para placas-mãe de plataforma AMD. Em alguns modelos de placas, o Speaker pode estar fora do FRONT_PANEL, mas próximo dele, num minúsculo conector de 4 pinos separado.


De acordo com os BEEPs expressados pelo Super I/O através do Speaker, temos uma tabela com o significado de cada sequência de sons, como é possível ver na sequência do artigo.

AMI BIOS


Para o BIOS desenvolvido pela American Megatrends Inc., temos a lista a seguir:

-> 1 BEEP curto: Significa que o POST foi executado e nenhum erro ocorreu, ou seja, o sistema operacional pode ser carregado normalmente;


-> 1 BEEP longo: Falha no Refresh (Refresh Failure). O circuito de refresh está com problemas, e isto pode ser causado por danos na placa mãe ou falhas em um ou mais módulos de memória RAM;


-> 1 BEEP longo e 2 BEEPs curtos: Falha no adaptador de vídeo. Problemas com o BIOS da placa de vídeo. É aconselhável retirar a placa, passar uma borracha (borracha comum, de apagar escrita à lápis) nos contatos da interface PCI, AGP ou PCIe e recolocá-la, no mesmo ou em outro slot, se for possível. Se puder, passe um spray limpa contato no slot e nos contatos da placa. Na maioria das vezes este problema é causado por mau contato, mas em alguns casos a placa de vídeo pode estar danificada fisicamente ou com o BIOS corrompido;


-> 1 BEEP longo e 3 BEEPs curtos: Tem o mesmo significado de 1 BEEP longo e 2 BEEPs curtos;


-> 2 BEEPs curtos: Falha geral do equipamento. Não foi possível iniciar o computador. Este código é mostrado quando há uma falha grave em algum componente, e que o Firmware não foi capaz de identificar. Em geral o problema pode ser na placa mãe ou nos módulos de memória RAM;


-> 2 BEEPs longos: Erro de paridade. Durante o POST, foi detectado um erro de paridade na memória RAM. Este problema pode ser tanto nos módulos de memória RAM quanto nos próprios circuitos de paridade. Para determinar a causa do problema, basta fazer um teste com outros pentes de memória. Caso esteja utilizando módulos de memória sem o Bit de paridade, deve se desativar a opção "Parity Check" encontrada no SETUP do BIOS;


-> 3 BEEPs longos: Falha nos primeiros 64 KB da memória RAM (Base 64k memory failure). Significa que foi detectado um problema grave nos primeiros 64 KB da memória RAM. Isso pode ser causado por um defeito nos chips de memória RAM ou na própria placa mãe. Outra possibilidade é o problema estar sendo causado por um simples mau contato. Antes de se desesperar e preparar o bolso para comprar memória RAM nova, retire os módulos de memória, limpe seus contatos usando uma borracha (borracha comum, de apagar escrita à lápis) e recoloque-a nos slots com bastante cuidado. Se puder, passe um spray limpa contato nos slots e nos contatos do módulo;


-> 4 BEEPs longos: Significa Timer não operacional: O Timer 1 não está operacional ou não está conseguindo encontrar a memória RAM. O problema pode estar na placa mãe (o que é mais provável) ou nos módulos de memória RAM;

-> 5 BEEPs curtos: Significa que houve um erro no processador. O processador está danificado, ou mal encaixado no socket. Verifique se o processador está bem encaixado e na posição certa;


-> 6 BEEPs curtos: Significa falha no Gate 20 (8042 - Gate A20 failure). O gate 20 é um sinal gerado pelo chip 8042, responsável por colocar o processador em modo protegido. Neste caso, o problema poderia ser algum dano na CPU ou até mesmo problemas relacionados com o chip 8042 que fica localizado na placa mãe ou embutido no chipset (mas este último problema é mais raro);


-> 7 BEEPs curtos: O processador gerou uma interrupção de exceção - Processor exception (interrupt error). Significa que o processador está apresentando um comportamento errático. Isso pode acontecer no caso de um overclock mal sucedido. Se o problema for persistente, experimente baixar a frequência de operação da CPU. Caso esse método não dê resultados, considere uma troca;


-> 8 BEEPs curtos: Significa erro na memória RAM da placa de vídeo (display memory error). Também pode ser considerado um mau contato entre o slot e a placa de vídeo off board. Assim como no caso das memórias, retire a placa de vídeo, passe borracha em seus contatos, um spray limpa contato também ajuda, e recoloque a placa no slot. Caso esse método não resolva, é provável que a placa de vídeo esteja danificada;


-> 9 BEEPs curtos: Significa erro na memória ROM (rom checksum error). Problemas com a memória ROM Flash, onde está gravado o BIOS. Isto pode ser causado por um dano físico no chip do BIOS (descarga eletrostática, por exemplo), por um upgrade de BIOS mal sucedido ou até mesmo pela ação de um vírus da mesma linhagem do Chernobyl;


> 10 BEEPs curtos: Significa falha no CMOS Shutdown Register (CMOS shutdown register error). O chamado de Shutdown Register enviado pelo CMOS apresentou erro. Este problema é causado por algum defeito na memória RAM presente junto do RTC (Real Time Clock) que armazena as alterações feitas no SETUP de configuração do BIOS e a hora e data do sistema. Nesse caso será um problema físico do chip, sendo mais difícil de fazer manutenção, porém, este erro é raro de acontecer :);


-> 11 BEEPs curtos: Significa problemas com a memória cache (cache memory bad). Foi detectado um erro na memória cache, e geralmente quando isso acontece, o BIOS consegue inicializar o sistema normalmente, desabilitando essa memória. Só que isso não é desejável, pois degrada demasiadamente o desempenho do sistema. Uma coisa a ser tentada é entrar no SETUP e aumentar os tempos de espera da memória cache, se esta configuração estiver disponível, é claro. Muitas vezes, com essa configuração conseguimos que ela volte a funcionar.

 

AWARD BIOS e Phoenix


Para o BIOS desenvolvido pela AWARD, temos a tabela a seguir:

Tabela 1


Para o BIOS desenvolvido pela Phoenix, temos a lista a seguir com a sequência de BEEPs e o erro:


-> 1-1-3: Falha no CMOS write/read; -> 1-1-4: Falha na ROM BIOS checksum; -> 1-2-1: Falha no Timer do Sistema; -> 1-2-2: Falha na inicialização do DMA; -> 1-2-3: Falha no registro da página de DMA (write/read); -> 1-3-1: Falha na verificação da atualização da memória RAM; -> 1-3-3: Falha no chip dos 64K RAM iniciais ou linha de dados; -> 1-3-4: Falha na lógica odd/even dos 64K RAM iniciais; -> 1-4-1: Falha no endereço de linha dos 64K RAM iniciais; -> 1-4-2: Falha de paridade nos 64K RAM iniciais; -> 2-1-1: Bit 0, 64K RAM iniciais; -> 2-1-2: Bit 1, 64K RAM iniciais; -> 2-1-3: Bit 2, 64K RAM iniciais; -> 2-1-4: Bit 3, 64K RAM iniciais; -> 2-2-1: Bit 4, 64K RAM iniciais; -> 2-2-2: Bit 5, 64K RAM iniciais; -> 2-2-3: Bit 6, 64K RAM iniciais; -> 2-2-4: Bit 7, 64K RAM iniciais; -> 2-3-1: Bit 8, 64K RAM iniciais; -> 2-3-2: Bit 9, 64K RAM iniciais; -> 2-3-3: Bit 10, 64K RAM iniciais; -> 2-3-4: Bit 11, 64K RAM iniciais; -> 2-4-1: Bit 12, 64K RAM iniciais; -> 2-4-2: Bit 13, 64K RAM iniciais; -> 2-4-3: Bit 14, 64K RAM iniciais; -> 2-4-4: Bit 15, 64K RAM iniciais;

-> 3-1-1: Falha no Registro de DMA Slave;

-> 3-1-2: Falha no Registro de DMA Master;

-> 3-1-3: Falha no registrador da interrupção Master;

-> 3-1-4: Falha no registrador da interrupção Slave;

-> 3-2-4: Falha no controlador de teclado;

-> 3-3-4: Falha na inicialização do vídeo;

-> 3-4-1: Falha no retrace do vídeo;

-> 3-4-2: Procura por ROM de vídeo em processamento;

-> 4-2-1: Teste da interrupção do Timer;

-> 4-2-2: Teste de Shutdown;

-> 4-2-3: Falha na porta A20;

-> 4-2-4: Interrupção inesperada em modo protegido;

-> 4-3-1: Teste de RAM (o endereço da falha é FFFFh);

-> 4-3-3: Intervalo do timer canal 2;

-> 4-3-4: Erro no relógio do sistema;

-> 4-4-1: Falha na Porta Serial;

-> 4-4-2: Falha na Porta Paralela;

-> 4-4-3: Teste do co-processador matemático;

-> 1-1-2: * Seleção da placa de sistema;

-> 1-1-3: * Extender CMOS RAM;


-> Nenhum BEEP: Significa que está tudo OK após executar os seguintes testes:

> Teste de registro de CPU;

> Teste dos 64K RAM iniciais;

> Carregamento do vetor de interrupção;

> Teste de falha de força CMOS / Cálculo do checksum;

> Validação de configuração de vídeo;

> Vídeo funcionando com vídeo ROM;

> Vídeo funcional;

> Vídeo Monocromático funcional;

> Vídeo CGA funcional;

Observe que a lista mostra sequências de BEEPs curtos em três sequências, uma seguida da outra. Não há BEEPs longos igual ocorre na AMI BIOS.

EX.: 4-4-2: São 4 BEEPs > 1 espaço > 4 BEEPs > 1 espaço > 2 BEEPs

 

IBM BIOS


Para o BIOS utilizado nos antigos PCs da IBM, temos a lista a seguir:


-> 1 BEEP curto: Sistema passou por todos os testes; -> 2 BEEPs curtos: Erro de display; -> 1 BEEP contínuo: Pode ser placa mãe ou alguma falha no fornecimento de energia, podendo ser então um problema nos circuitos da fonte de alimentação; -> 1 BEEP longo e 1 BEEP curto: Algum problema com a placa-mãe; -> 1 BEEP longo e 2 BEEPs curtos: Falha com a placa de vídeo; -> 1 BEEP longo e 3 BEEPs curtos: Falha com o EGA; -> 3 BEEPs longos: Falha com o cartão 3270.

Os 64 kB de RAM iniciais


Principalmente no BIOS Phoenix há uma lista de códigos de erro simplesmente para a RAM. Então vamos começar do começo:

O DOS foi desenvolvido para o microprocessador Intel 8088, a CPU do primeiro PC lançado pela IBM em 1981. Um chip cujos registradores internos podiam armazenar apenas 16 bits. Através da leitura do artigo "Os bits e os Bytes" aqui do HC, o maior número que “cabe” em 16 bits corresponde a 65535, isto é, 64k. Em suma, uma máquina com esta CPU não pode acomodar mais que 65535 posições de memória, ou seja, a RAM não pode passar de 64 kB.


CURIOSIDADE: A Intel até desenvolveu um sistema para ampliar a quantidade de endereços de forma virtual do chamado “campo de memória” (tamanho máximo teórico da memória) do 8088 até 1MB. Esse sistema consistiu em decompor o endereço em duas partes que se somam, o “segmento” e o “deslocamento”, armazenando cada uma em um registrador diferente. Como cada uma delas não pode ultrapassar os 16 bits, ambas cabem nos registradores do 8088. Para encontrar um endereço, acrescenta-se quatro zeros no final do número que exprime o segmento e soma-se ao resultado o valor do deslocamento.


Numa CPU 8088, com 16 bits para endereços e um limite máximo de 64kB de RAM, havia a necessidade do POST do BIOS verificar a integridade de cada uma das 16 linhas e identificar possíveis erros durante a inicialização do PC. Como a capacidade de memória dos PCs foi aumentando, a lista de BEEPs da Phoenix mostrada neste texto contemplou apenas os 64 kB iniciais de cada linha de endereço. E com o aumento das linhas de endereço, optou-se por utilizar códigos de erro generalizados para informar ao usuário do PC anormalidades com a memória RAM.


CURIOSIDADE: Com a memória RAM segmentada em trechos de 64 kB, foi possível enganar o MS-DOS para ultrapassar os 1 MB de RAM endereçáveis quando utilizando uma CPU 286 ou superior.


Vamos lá: Vamos encontrar a base do último segmento, o mais alto, de valor mais elevado. Para isto basta preencher todos os 16 bits do registrador de segmentos com o valor 1. Isso resulta no já dito número 65535.

Agora, vamos multiplicar 65536 por 16 (o que corresponde a acrescentar quatro zeros ao seu valor expresso em binário). O resultado será 1.048.560.

O valor 1.048.560 é exatamente o obtido ao se subtrair 16 do número que representa 1 MB (não se esqueça que 1 MB neste caso é 1.024 x 1.024 bytes, e não um milhão de bytes).


Indo direto ao ponto, o valor mais alto para o qual o registrador de segmentos pode “apontar” corresponde a um segmento que se inicia apenas 16 bytes abaixo de 1 MB.

Num PC que dispõe de mais de 1 MB de memória RAM na placa-mãe, se conseguir usar este “ultimo” segmento torna-se possível enganar o MS-DOS e ganhar quase 64 kB de memória. Como cada segmento contém 64 kB, não importando onde comece, se usarmos o segmento que começa apenas 16 bytes antes de fechar 1 MB, seu final se estenderá quase 64K acima do primeiro MegaByte (para ser exato, 64K menos 16 bytes). O que representa um ganho de quase 64K, um valor nada desprezível naquela época.


CURIOSIDADE: Este trecho adicional de memória que ganha-se ao "enganar" o MS-DOS chama-se “Área de Memória Alta” (em inglês, HMA - High Memory Area) e em geral é usado para armazenar o código executável do próprio DOS quando se inclui o comando DOS=HIGH no arquivo de configuração Config.Sys. O problema é que para isto é preciso usar mais de vinte linhas de endereçamento.

Em um 8088, isto está fora de questão, pois ele tem apenas vinte linhas, portanto nada feito. Já em um 286, 386, 486 ou Pentium, todos eles com mais de vinte linhas de endereçamento, em princípio isto seria possível. Desde que se pudesse acionar a vigésima primeira linha de endereçamento enquanto se usa o DOS. E isto não é tão simples. É aí que entra o tal do...

 

Gate A20


No tópico anterior vimos que os BIOS podem informar um erro envolvendo o Gate A20. Mas que diabos seria isto?

Para entender o Gate A20, precisamos voltar novamente lá pro Intel 8088, pois ele possui apenas 16 linhas de endereçamento (16 bits), com a opção de se ampliar para 20 bits que foi descrita anteriormente, começando pela linha 0 e indo até a 19. Essas linhas de endereçamento se resumem de forma palpável em trilhas na placa-mãe, que interligam a CPU aos chips de memória e circuitos periféricos. Este sistema de endereço é responsável por mapear a memória e assim saber onde os dados estão. Os processadores que vieram depois, como o 286, 386, 486 e afins possuem mais de vinte linhas de endereçamento. Por exemplo, o 286 veio com 24 bits e no Pentium já era 32 bits.


Para rodar um sistema como o MS-DOS num hardware superior ao de um PC com o 8088, a CPU deve estar obrigatoriamente no modo real (sim, a força de sobrevivência do DOS é tamanha que tanto o 386 quanto o 486 e o Pentium incluíram além do modo protegido - que permitia rodar mais de um programa por vez - o modo real - que emula um 8088). Assim, quando você roda o DOS “puro” em um Pentium Pro da vida, com 200 MHz, ele está se comportando exatamente como se fosse um velho 8088, porém com um "teco" a mais de desempenho.

E no modo real, apenas um programa pode rodar de cada vez (assim as CPUs antigas funcionavam), bem como a vigésima primeira linha de endereçamento permanece inacessível - o que faz sentido, pois o modo real serve apenas para emular um 8088.

Isso significa que o MS-DOS não enxergava mais que 1 MB de RAM, e ao estourar esse valor, um PC rodando este sistema travaria de imediato. Mas qual o motivo de rodar o MS-DOS num PC tão moderno para a época, capaz de trabalhar com mais de um programa em simultâneo, ter mais RAM e até suportar interface gráfica? Não seria um retrocesso?

Simples! O MS-DOS era o SO mais popular da época, com milhares de programas desenvolvidos para ele, e apesar de tão ultrapassado nos anos 1990, um PC moderno que não pudesse rodar o sistema mais popular teria muitas chances de ser um fracasso. É como se hoje, em pleno 2021, todos os PCs novos só rodassem Windows 11 e aplicações projetadas e otimizados para ele, e tudo o que foi desenvolvido até agora fosse deixado de lado. Isso obrigou as fabricantes a manterem o suporte ao sistema e fazer todo um período de transição com retrocompatibilidade entre plataformas.


E foi assim que surgiu a façanha de "enganar" o MS-DOS para ultrapassar os 1 MB de memória endereçaveis manipulando o esquema de endereçamento tipo segmento / deslocamento e, desta forma, utilizar mais do que as 20 linhas de endereço que as CPUs 8088.

E para ultrapassar os 1 MB de RAM endereçaveis suportada pelo DOS, a vigésima primeira linha de endereçamento (A20) deveria ser utilizada. O problema agora era fazer com que a CPU pudesse acessar a A20 mesmo rodando no modo real, e isso se consegue através de um artifício denominado “Gate A20”.


Quando os fabricantes de hardware perceberam a importância da vigésima primeira linha de endereçamento, a A20, buscaram um meio de incluir em suas placas-mãe uma forma de acioná-la mesmo quando a CPU operava em modo real. Em essência, a coisa era simples, pois bastava usar um microprocessador que “tomasse conta” da linha A20, tornando-a ativa ou não de acordo com comandos enviados pelo sistema operacional.

Isto, evidentemente, somente seria possível em máquinas com CPUs 286 ou mais avançadas, as únicas que admitiam os modos real e protegido, bem como ter mais de 20 linhas para aplicação de endereços, ou seja, do IBM AT em diante. Mas foi justamente a partir do modelo AT (1984) que a IBM incluiu um microprocessador adicional para controlar a interface do teclado (sim, tecnicamente o chip 8042 que controla o teclado dos AT é uma CPU independente, com seus próprios registradores, memória ROM e etc.). E já que ele estava lá, porque não aliviar o trabalho da CPU e aproveitá-lo para outras funções além de controlar o teclado?

E isto foi feito. Incorporaram ao chip controlador da interface para teclado duas funções adicionais: o controle da reinicialização por hardware (mais conhecida por “reset do micro”) e do “Gate A20”, já que a coisa funcionava como uma comporta (“gate”) que controlava esta linha.


Mas, com a evolução tecnológica, as CPUs se tornaram muito mais rápidas e poderosas que os velhos 286 com seus meros 8MHz, e assim passou a ser mais eficaz controlar o acesso à A20 diretamente pela CPU ao invés de usar o velho 8042. A este controle via CPU, por ser mais rápido, deu-se o nome de “Fast Gate A20” (ou “Gate A20 Emulation” já que, para controlar a A20, a CPU emula o controlador do teclado). E, nas máquinas que o suportam, incluiu-se a opção correspondente no setup.

Nas máquinas antigas, o setup possui o ajuste “Fast Gate A20” ou “Gate A20 Emulation”. Era possível habilita-lo para fazer com que o controle da linha A20 seja feito de forma mais rápida e eficiente diretamente pela CPU. Se algo viesse à dar errado (a máquina se recusar a dar o boot, travar durante a carga do sistema operacional ou passar emitir frequentes mensagens mencionando “erro de paridade”) era melhor desabilitar a opção e devolver a A20 ao controlador da interface do teclado, o que torna o sistema mais lento, porém seguro.


Hoje, habilitar ou desabilitar o Gate A20 já não faz mais nem sentido, pois o MS-DOS já é história, processadores atuais possuem dezenas e dezenas de linhas de endereçamento, o controle da interface do teclado evoluiu para o Super I/O (PS/2), ou chips Ponte (USB) e seu gerenciamento é mais dinâmico, a reinicialização por hardware já foi pro Super I/O também, enfim, nem a opção de habilitar ou desabilitar o Gate A20 existe mais. Esta foi, assim como várias outras, apenas uma artimanha pra manter o DOS vivo por mais tempo até que outros SOs e programas para eles fossem surgindo.

 

Um "POST externo"


Em placas-mãe de fator-forma ATX feitas após o ano 2000, temos em alguns modelos de algumas fabricantes, normalmente modelos "premium", um pequeno Display de 7 segmentos ligado ao Super I/O embutido no Chipset ou no Super I/O dedicado. Este display exibe os códigos de erro, caso haja algum durante o POST. Neste caso, cada fabricante programa linhas GP I/O (General Purpose Input / Output) do chipset para mandarem os sinais ao Display e exibir um código, que também pode ser estabelecido pelo fabricante da placa-mãe e não os códigos estabelecidos pela desenvolvedora do BIOS utilizado na placa.

OBSERVAÇÃO: As linhas GP I/O são entradas e saídas de dados programáveis, isto é, no Super I/O há um controlador programável, onde a fabricante pode incluir códigos de funcionalidades únicas oferecidas junto do produto.

A fabricante de placas-mãe AsRock possui o Dr. Debug, uma tecnologia que permite exibir através de linhas GP I/O e um Display os códigos de erro do POST.

Veja abaixo o Display de debug da placa-mãe AsRock 990FX Extreme9:

Imagem 4


Para o Dr.Debug a AsRock disponibiliza uma tabela com os códigos, que podem ser levemente diferente entre as plataformas Intel e AMD. A tabela abaixo serve para a plataforma AMD:

Tabela 2


A Asus também usa um Debug via Display, e assim como a AsRock, plataformas diferentes podem ter algumas diferenças entre os códigos. CLIQUE AQUI e veja um manual de placa-mãe ASUS em PDF com uma lista de códigos válida para placas-mãe com BIOS AMI, Chipset Intel P67 e Socket Intel LGA1155 nas páginas "2-22" ate a "2-26".


PC Analyzer


Nas placas que não possuem um Debug com Display, o usuário pode adquirir pela internet uma placa PCI Analyzer ou PCIe Analyzer, popularmente conhecidas como "PC Analyzer", que possuem um microcontrolador, um Display de 7 segmentos ou uma tela mais avançada (dependendo do modelo) e as vezes até um Speaker!

Essas placas PC Analyzer possuem interface PCI ou PCI Express x1 (como é o caso das mais caras e mais atuais placas debug). Estas placas debug mostram o erro que a placa está sofrendo e até mesmo se a placa-mãe está "morta".

Abaixo, você vê a imagem de uma placa PC Analyzer com interface PCI:

Imagem 5


Perceba que há LEDs SMD marcados com um valor de tensão, RESET, CLOCK, RDY e FRAME acima do Display de sete segmentos, isso pois as placas PC Analyser dedicadas possuem funções a mais, e neste caso mostra se os níveis de tensão e outros parâmetros estão OK.

A parte de trás da mesma placa PC Analyzer:

Imagem 6


Para esta PC Analyzer das duas imagens acima, temos a tabela de códigos e seus significados para cada tipo de BIOS, seja ela da AMI, da Award ou Phoenix. A tabela mostra inclusive o significado dos LEDs acima do Display de 7 segmentos. Para acessa-la, CLIQUE AQUI!

Abaixo, uma placa PC Analyzer PCI Express / PCI / USB:

Imagem 7


Abaixo, uma placa PCI Analyser PCI e ISA:

Imagem 8


Abaixo, uma placa PC Analyser MiniPCI e MiniPCIe, ideal para notebooks, dos mais antigos, com MiniPCI aos mais atuais, com MiniPCIe:

Imagem 9


E nos Notebooks?


Nos notebooks não há um Speaker para dar BEEPs, muito menos um Display de debug. No caso dos notebooks, apesar do BIOS ser similar ao de placas-mãe comuns, não tem-se o risco de ocorrer tantos problemas, pois estes equipamentos possuem um hardware mais limitado ao acesso do usuário, uma retrocompatibilidade de peças bem menor, portanto os erros não ficam "tão acessíveis" também.

Alguns notebooks mais antigos mostravam o POST igual está na imagem 1, exibida neste artigo. Como foi possível ver nas imagens de placas PCI Analyser acima, há placas debug com interface MiniPCI, para notebooks antigos, e MiniPCIe, para notebooks atuais, além de, claro, placas de debug com interface USB.

Esta foi uma breve explicação sobre o POST e como o sistema comunica o usuário sobre os erros do sistema!

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FONTES e CRÉDITOS:

Texto, diagramas e imagens: Leonardo Ritter

Fontes: Hardware.com.br; bpiropo.com; site Tecnologia do Globo; site Sage PCTuga; Banco de esquemas elétricos do HC.


Última atualização: 28 de Novembro de 2021.

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